Iphan e o desafio de preservar a memória do Brasil
Nesse post falaremos da autarquia responsável pela preservação do Patrimônio Histórico e Cultural brasileiro, o Iphan. Em um blog com a temática que nos propomos fazer, falar do Iphan é obrigatório.
5/10/20252 min read


Falar de patrimônio é falar de tempo. É olhar para a cidade e enxergar, por trás do reboco descascado ou da madeira trabalhada, camadas de histórias que se acumulam como sedimentos de cultura. Nesse processo de reconhecimento e cuidado com o que herdamos, o Iphan — Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional — ocupa um lugar central.
Desde sua criação, em 1937, o Iphan tem sido o principal responsável por identificar, proteger e valorizar o patrimônio cultural brasileiro, em suas diversas formas. Isso envolve tanto os bens materiais — como igrejas barrocas, centros históricos, ruínas, objetos, sítios arqueológicos — quanto os bens imateriais, como saberes, festas, comidas típicas, práticas e expressões populares. É uma missão que exige não só conhecimento técnico, mas também sensibilidade diante das formas pelas quais o povo brasileiro construiu e constrói sua identidade.
Ao longo das décadas, o trabalho do Iphan moldou boa parte da paisagem urbana que hoje associamos ao que há de mais valioso no país em termos de memória arquitetônica. Basta pensar em lugares como Ouro Preto, Olinda, São Luís do Maranhão ou o Pelourinho, em Salvador. Esses territórios só chegaram até nós com o nível de integridade que têm graças à ação contínua de preservação e fiscalização promovida pelo Instituto. Mas a atuação vai além do que se vê nos guias turísticos.
O conceito de patrimônio ampliou-se. Hoje, proteger o patrimônio é também reconhecer que ele não se restringe ao monumental. A roda de capoeira, o ofício das baianas de acarajé, a festa do Divino, o modo de fazer o queijo minas artesanal — tudo isso também é memória. E memória viva. O Iphan tem sido uma das poucas instituições públicas a levar esse reconhecimento a sério, trabalhando com registros, inventários, planos de salvaguarda e diálogo com as comunidades detentoras desses saberes.
Ainda assim, não se pode romantizar a atuação do Instituto. O caminho é cheio de obstáculos: orçamentos enxutos, lentidão nos processos de tombamento, pressões de grupos econômicos, disputas locais e, muitas vezes, a falta de compreensão da própria população sobre o valor do que se quer preservar, decorrente da falta de educação patrimonial. Há também o desafio de equilibrar conservação e uso — afinal, patrimônio não pode ser só cenário, precisa seguir sendo vivido.
Mas é justamente nesse ponto que o Iphan se revela ainda mais necessário. Em um país que tende a apagar o passado, a preservação se torna uma forma de resistência. Cada casarão restaurado, cada celebração reconhecida, cada bem registrado é uma escolha política: a de afirmar que aquilo importa, que merece permanecer.
A arquitetura guarda marcas de um tempo que não volta, mas que ainda pode ensinar. E o Iphan, com todos os seus limites, tem sido o guardião institucional dessa permanência. Cabe a nós, como sociedade, reforçar esse pacto com a memória — não como uma nostalgia paralisante, mas como um compromisso com o que fomos, com o que somos e com o que ainda podemos ser.