Patrimônio histórico: identidade que move a economia
Somos um país que tem pouco apreço pela própria história. Mal sabemos que ela pode nos ajudar a resolver os nossos problemas econômicos.
1/30/20252 min read
Patrimônio histórico não é só herança cultural — é também ativo econômico. Igrejas coloniais, centros antigos, casarões tombados, ruínas arqueológicas: cada um desses lugares carrega histórias, mas também atrai gente. E onde há gente, há movimento, consumo, renda.
Investir em patrimônio histórico pode ser altamente rentável. Estudos mostram que a restauração de edifícios históricos pode gerar até 16,5% mais empregos do que novas construções [1], com impactos diretos em turismo, serviços e comércio. Em muitos casos, cada emprego direto no setor cultural cria cerca de 26 empregos indiretos [2]. E há exemplos expressivos: a restauração do Coliseu, em Roma, gerou mais de US$ 1 bilhão em benefícios econômicos [3], mostrando o potencial de retorno quando há planejamento e valorização do patrimônio.
No Brasil, não faltam exemplos. Em Ouro Preto (MG), o patrimônio colonial atrai cerca de 1 milhão de visitantes por ano [4], movimentando hospedagem, alimentação, artesanato e serviços turísticos. Em Olinda (PE), o centro histórico é a espinha dorsal da economia criativa local, com forte presença cultural e gastronômica. Em São Luís (MA), a revitalização do Centro Histórico atraiu investimentos e consolidou a cidade como destino turístico, especialmente após políticas de incentivo à preservação [5].
Esse movimento tem efeito em cadeia. Um centro histórico bem cuidado valoriza o entorno, atrai novos negócios e fortalece a identidade local. A conservação, quando feita com participação da comunidade, gera mais empregos e é mais sustentável a longo prazo, segundo estudos do Iphan [6].
Mas isso exige mais do que esperar o turista chegar. É preciso planejamento urbano, incentivos fiscais, sinalização adequada, capacitação profissional e políticas públicas consistentes. O turismo baseado em patrimônio não se sustenta só com apelo visual — ele precisa de estrutura e visão de longo prazo.
Valorizar o patrimônio é afirmar identidade. É dizer: “isso aqui é nosso, tem valor e merece ser preservado” E esse sentimento contagia. Quem mora passa a ver com mais orgulho. Quem visita leva uma experiência mais forte e autêntica. Em tempos de turismo mais consciente, preservar não é custo. É investimento com retorno — financeiro, social e simbólico.
Mais que isso, para muitos desses locais esse investimento pode ser a redenção de uma situação de pobreza e falta de atividade econômica. É como se dormissemos com um tesouro passando necessidade por não exergar valor na nossa história. Se esse blog puder contribuir, o mínimo que seja, para essa mudança de visão ficarei muito feliz.
Referências
[1] Donovan Rypkema – Measuring Economic Impacts of Historic Preservation, Global Urban Development, 2008.
[2] OECD – The Impact of Culture on Tourism, 2009.
[3] FasterCapital – The Economic Benefits of Investing in Heritage Restoration, 2023.
[4] Observatório do Turismo de Minas Gerais – Relatório Anual de Visitação em Ouro Preto, 2023.
[5] Iphan – Revitalização do Centro Histórico de São Luís, 2021.
[6] Iphan – Relatório de Impacto Socioeconômico de Projetos de Conservação, 2020.